Nem só de super-heróis e comédias vive o streaming. Em meio a tantas estreias semanais, há títulos que apostam em narrativas densas, personagens complexos e dilemas que mexem com as emoções. Alguns desses filmes exploram o desejo, o prazer e a intimidade com uma abordagem mais artística e humana — sem deixar de ser provocantes.
Selecionámos cinco filmes disponíveis na Netflix e Prime Video que conseguem ir além do entretenimento raso. São histórias que envolvem relações intensas, sexualidade e personagens femininas com voz própria — inclusive acompanhantes, uma figura muitas vezes mal compreendida que o cinema aprendeu a retratar com mais sensibilidade ao longo do tempo.
"Newness" (Netflix)
Em um cenário moderno e hiperconectado, "Newness" mostra como o amor e o prazer são constantemente testados pelas possibilidades infinitas dos relacionamentos online. O filme gira em torno de Martin e Gabi, um casal que decide abrir a relação para tentar salvar o que ainda existe entre eles. A experiência, porém, coloca em xeque os seus limites emocionais.
O longa reflete muito do que vivemos hoje: a liquidez dos vínculos, os aplicativos como vitrines de desejo e a dificuldade de encontrar conexões reais. Com direção de Drake Doremus, conhecido por "Like Crazy", "Newness" tem um ritmo sensível e atuações intensas de Nicholas Hoult e Laia Costa.
A sensualidade como linguagem visual: do cinema à vida real
Nos últimos anos, muitos filmes têm apostado numa abordagem menos caricata e mais humana ao retratar personagens femininas ligadas ao universo do prazer. O cinema percebeu que essas mulheres têm histórias para contar — e nem sempre elas cabem no estigma social.
Da mesma forma, algumas plataformas digitais também acompanham essa evolução, como é o caso da skokka.pt, que funciona como um espaço seguro para acompanhantes profissionais se apresentarem com liberdade e responsabilidade. Fora das telas, esses serviços também passam por transformações, refletindo mudanças culturais e sociais mais amplas. Assim como no cinema, há desejo, fantasia, mas também autenticidade e escolha.
"Belle de Jour" (Prime Video)
Dirigido por Luis Buñuel, este clássico francês de 1967 continua a impressionar. Protagonizado por Catherine Deneuve, o filme acompanha Séverine, uma mulher jovem e casada que decide trabalhar como acompanhante de luxo durante as tardes. Mas o que poderia ser apenas uma escolha excêntrica revela-se uma jornada de autoconhecimento, repressão e liberdade interior.
"Belle de Jour" não apenas marcou o cinema europeu com a sua estética sofisticada, como também desafiou os padrões morais da época. É um exemplo de como o cinema pode abordar o desejo feminino sem reduzi-lo a estereótipos. Para quem aprecia uma narrativa ousada, com simbolismos e personagens profundos, esta é uma obra essencial.
"The Escort" (Prime Video)
Com uma abordagem leve, "The Escort" é uma comédia romântica com uma pegada surpreendentemente reflexiva. A história acompanha Mitch, um jornalista viciado em sexo que acaba se envolvendo com Natalie, uma acompanhante de luxo que sonha com uma carreira respeitável. Juntos, eles desafiam os próprios preconceitos e criam uma relação que mistura amizade, desejo e cumplicidade.
O filme rompe com visões estigmatizadas sobre o trabalho sexual e mostra que por trás de uma profissão controversa, existem pessoas com ambições, dores e humanidade. É uma escolha certeira para quem quer algo mais leve, mas que não deixa de provocar reflexão.
"Girl Lost" (Netflix)
Este drama independente norte-americano não é fácil de assistir — mas é importante. "Girl Lost" acompanha uma adolescente que, após sofrer abuso familiar, é empurrada para o mundo da prostituição em Los Angeles. O longa mostra de forma crua a vulnerabilidade de jovens em contextos sociais frágeis.
Com produção modesta e atores pouco conhecidos, o filme surpreende pela autenticidade. A narrativa não busca glamourizar nem julgar, apenas expor. É impossível não se emocionar — e questionar o quanto o sistema ainda falha em proteger quem mais precisa.
Acompanhantes no ecrã e fora dele: o fascínio continua
Não é à toa que tantos filmes retratam acompanhantes sexuais de forma mais complexa nos últimos anos. Ao contrário do que se via nas décadas passadas, essas personagens não são mais apenas “objeto de desejo” — elas têm voz, história e muitas vezes são protagonistas.
Essa mudança narrativa também acompanha o debate social sobre o trabalho sexual e os direitos das pessoas que atuam nesse meio. Em diversos países europeus, inclusive Portugal, há discussões sérias sobre regulamentação, autonomia e respeito.
Assim como o cinema atual, plataformas que facilitam o contato com profissionais do prazer vêm investindo em segurança, identidade e comunicação mais ética. O público já não quer apenas fantasia — quer confiança, clareza e experiências menos estigmatizadas.
A presença da fantasia nas cidades
O cinema sempre usou grandes cidades como palco para histórias de paixão, encontros intensos e personagens enigmáticas. Paris, Nova Iorque, Barcelona e, mais recentemente, Lisboa e Porto têm servido como cenários perfeitos para tramas que envolvem sedução, desejo e liberdade pessoal.
Na vida real, essa mesma atmosfera de mistério e descoberta também está presente. É comum encontrar referências a acompanhantes em fóruns de discussão sobre sexualidade, liberdade íntima ou turismo alternativo. Esses espaços, muitas vezes discretos, mostram que a fantasia e o desejo não são apenas temas de ficção — fazem parte do cotidiano de muitas pessoas que buscam experiências autênticas e seguras.
Ao refletir essa realidade, o cinema contribui para um debate mais aberto, em que o prazer deixa de ser tabu e passa a ser tratado com a complexidade e o respeito que merece.
"Anora" (Prime Video)
Vencedor de cinco estatuetas nos Oscars 2025 — incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem — Anora é um drama impactante ambientado no cenário dos Estados Unidos contemporâneos, com foco no universo do trabalho sexual.
O filme acompanha a trajetória de Ani (interpretada por Mikey Madison, premiada como Melhor Atriz), uma trabalhadora sexual russa que se envolve com Ivan, filho de um oligarca russo. O que surge como uma transação inicialmente profissional se transforma em um romance tumultuado que desafia expectativas — especialmente quando Ivan propõe casamento em Las Vegas e acaba abandonando Ani sob pressão familiar.
Anora equilibra com maestria elementos de comédia, drama e crítica social: expõe a precariedade do “sonho americano” enquanto desconstrói estereótipos sobre sex work. O final, mais introspectivo do que convencional, torna o filme ainda mais memorável e emocionalmente ressonante.
"Pretty Woman" (Prime Video / Disney+)
Encerramos a lista com um clássico que dispensa apresentações. "Pretty Woman", protagonizado por Julia Roberts e Richard Gere, é o conto de fadas moderno mais famoso do cinema contemporâneo. A história da acompanhante que conquista um milionário ainda divide opiniões, mas ninguém pode negar seu impacto cultural.
Apesar do tom idealizado, o filme abriu portas para que outras produções se arriscassem a retratar o universo do trabalho sexual com menos preconceito. Hoje, com um olhar mais maduro, "Pretty Woman" pode ser visto como um marco — e também como ponto de partida para debates mais profundos.