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David Fincher afirma que Netflix tem o melhor "controlo de qualidade" em Hollywood

Tiago Silva, 13 de novembro de 2023 06:32

O Assassino (no título original, The Killer) de David Fincher chegou há uns dias ao catálogo da Netflix depois de passar duas semanas pelos cinemas. Normalmente, é assim que o serviço opera com alguns dos seus filmes originais, oferecendo uma breve janela de exibição nas salas de cinema.

Embora muitos cineastas sejam contra produções estrearem em simultâneo no cinema e em streaming (como é o caso de Christopher Nolan), Fincher parece acreditar firmemente que a Netflix é o melhor lugar em Hollywood para fazer filmes atualmente. Numa  recentemente entrevista com o Le Monde, o premiado realizador defendeu a gigante de streaming.

"Vamos ser honestos. Já trabalhei para a maioria dos grandes estúdios de cinema. Quando lhes dizes, 'Tenho de fazer estes efeitos especiais em 4K', a primeira resposta deles é, 'Oh, caramba, por que isso é tão caro?' Eles hesitam perante o mais pequeno custo. Isso não acontece com a Netflix (...) Eles nunca discutiram esse tipo de escolha. Adotaram um padrão da indústria que faz sentido para os realizadores. A Netflix tem, de longe, o melhor controlo de qualidade em todo Hollywood.", disse.

Vale lembrar que Fincher não tem o melhor histórico com estúdios considerando os inúmeros projetos ao longo dos anos que acabaram por nunca serem realizados, como é o exemplo da sequela de World War Z, no qual este comentou recentemente - ler aqui.

Com os estúdio a fecharem as portas a muitos realizadores de "autor", Fincher, com as suas ambições e necessidades conhecidas, viu esta falta de oportunidade como uma forma de reinventar a maneira como pode fazer os seus filmes. Depois veio o seu acordo exclusivo de vários anos com a Netflix, no qual tem estado totalmente dedicado há quase dez anos, mergulhando a fundo no jogo de streaming e criando séries como House of Cards, Mindhunter e Love, Death & Robots, sem esquecer dois filmes, Mank e  o recente O Assassino.

O cineasta ainda sugeriu que a Netflix será o futuro do cinema, quer os tradicionais frequentadores das salas de cinema gostem ou não:

"Sabes, não vamos salvar o cinema como cultura ao restringir os sistemas de distribuição em casa. Para que isso aconteça, o cinema teria de tornar-se um lugar de vanguarda, e não este lugar húmido, com mau cheiro e gorduroso que ainda é, com poucas exceções, a poupar em todas as despesas necessárias. Eu adorava certos cinemas, como o Grauman's Chinese Theater ou o Cinerama Dome em Los Angeles, mas as condições técnicas lá eram deploráveis. Temos de ultrapassar toda esta nostalgia para finalmente nos perguntarmos: quem oferece hoje uma representação ótima?", concluiu.

Parece que Fincher está basicamente a descartar a experiência cinematográfica como um passatempo ultrapassado... Num vídeo recentemente descoberto de 2020, o diretor do festival de Cannes Thierry Fremaux acreditava que Fincher e o cinema já não coexistiam: "Fincher abandonou o cinema. Fincher agora trabalha para plataformas de streaming, onde está a fazer coisas incríveis. Tentei explicar-lhe isso, modestamente, obviamente, que ele já não existe. Pelo menos para nós. Por razões à sua maneira, ele quer a sua liberdade criativa, não quer lutar com os chefes dos estúdios, os seus filmes tendem a ser muito caros, mas adoraria que ele voltasse ao cinema. Ele é um dos grandes."