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Crítica: Bem Bom, uma crítica à sociedade portuguesa dos anos 80

Diogo Fernandes, 12 de julho de 2021 11:50

Bem Bom é um filme português que conta a história de umas das primeiras girlsbands da Doce, no que é uma crítica á sociedade portuguesa que se destaca por uma boa produção, uma boa história e alguma comédia à mistura.

No ano de 1979, um grupo de quatro jovens são contratadas para formar uma girlsband, gerida por um grupo internacional chamado de PolyGram que já não existe nos dias de hoje. Com um poder de destaque em cantar, brilho, dança, este grupo vai chocar o país num momento inédito em Portugal. O poder de destaque e visão deste grupo vai levá-lo às ribaltas. Elas são as Doce!

Este grupo é composto por Bárbara Branco (Fátima Padinha), Lia Carvalho (Teresa Miguel), Ana Marta Ferreira (Laura Diogo) e Carolina Carvalho (Lena Coelho).

Ultimamente tenho decidido ver nos cinemas filmes de forma mais espontânea, e este foi um desses exemplos, que a acabou por me surpreender, já que ia à espera de um filme, e fui bombardeado com "outro", metaforicamente falando. Quando vi o Trailer, ainda estávamos em 2020, em plena pandemia do coronavírus, e numa altura em que a incerteza da abertura dos cinemas ainda era bastante grande, Bem Bom que inicialmente seria para estrear a 26 de novembro de 2020, acabou por ser adiado 8 de julho de 2021.

Mais recentemente, fui convidado para ver o filme, e sendo uma produção nacional, e pensei logo, "Porque não? Vamos dar uma oportunidade e ver esta produção que parece ser boa".

Uma autêntica critica a Portugal dos anos 80

Agora começando a crítica em si, começo por dizer, que se estão é espera do típico filme que conta como a banda surgiu de forma detalhada, este não é o filme para vocês, até porque esse momento acontece muito depressa. Este sentimento, que até me chegou a deixar algo chateado, foi substituído ao longo do tempo por um interesse numa história com a qual não estava a contar.

O crescimento e nascimento das Doce todo teve relacionado com uma visão e uma estratégia por detrás que fica muito bem demonstrado, que veio para criar choque e gerar a mudança numa cultura que estava atrás do seu tempo, quando comparado com vários dos países vizinhos da Europa.

Os momentos dramáticos e a comédia têm um bom contraste, cenas que me colocaram a rir de forma genuína e sem nunca perder no foco no que estava a acontecer.

Sem desenvolver muito os assuntos falados, e como acima, várias críticas a Portugal dos anos 80 são feitas. Entre as quais, temos três que se notam facilmente, o racismo, a discriminação e a falta de poder nas mulheres em serem quem realmente querem ser.

A produção de todo o filme é extraordinária, com as cores, ângulos e um diálogo que dão um sentimento de profissionalismo e investimento não muitas vezes visto em produções nacionais. Em sentido negativo, nota-se a existência de um baixo orçamento, a rondar os 420 mil euros, segundo a IMDB, que se sente sempre que estas estão em palco, já que o público é sempre bastante pouco se tiverem atentos. O concerto final que deveria ser algo grandioso também poderia ter sido algo grandioso, e o mesmo não aconteceu, e que acredito tenha sido esta razão.

Sendo estas partes fáceis de entender, e que até foram bem escondidas para quem não entender muito do assunto, houve um preciso momento que me deixou bastante desiludido. Falo de uma parte perto do final, num discurso que deveria ser de inspiração para o público, principalmente mulheres, de mostrar o impacto do grupo na mulher e na mudança que ele estava a criar. E não sei se foi da escolha da atriz, ou apenas de algum tipo de problema na produção, mas este momento não me fez sentir arrepiado nem me deu aquele momento de "se eu quiser, consigo".

Por mais que todos os momentos ao longo do filme tenham sido ótimos, e só tenha pontos positivos a dizer sobre Bem Bom, este momento final, que era mesmo fulcral, ficou bastante aquém das expetativas! No entanto, não acho que seja uma razão para não ir ao cinema, até porque a mensagem está lá.

Não percas Bem Bom já nos cinemas, um filme que aconselho todos a ver pelo que transmite e pela sua qualidade. Num aparte, e em forma de curiosidade, um filme que também aconselho para quem gostar deste, é Variações, que também é mais uma excelente produção nacional.